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O Solfejo do Objeto Sonoro – 4

SCHAEFFER, Pierre & Guy Reibel. Solfège de l’Objet Sonore. Paris: Editions du Seuil, 1966. (tradução portuguesa de António de Sousa Dias, 2007).

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CD 1 36     Segundo tema de reflexão: Duração e informação

Segundo tema de reflexão: Duração e informação.
Confrontemos agora o tempo dos cronómetros com a duração dos objectos musicais. Digamos rapidamente que, se o solfejo ensina que todas as mínimas são iguais, os compositores preocupam-se com o conteúdo, e fazem uma distinção entre as diferentes maneiras de preencher os espaços, por exemplo:

 


CD 1 37     sons de: timbale, violino, piano e órgão, igualmente espaçados

Chamamos a atenção para a influência[/incidência] da informação na duração:

 


CD 1 38     glissando vocal

era um objecto musicalmente equilibrado. Ora as proporções métricas das suas três partes são na realidade as seguintes: o glissando é um terço da suspensão, a qual é um terço do tenuto. Acrescentemos que a memória musical não retém apenas as proporções do tempo de escuta, mas também a importância daquilo que se passou:

 


CD 1 39     sequência de duas células musicais: [1] variada e curta, outra [2] uniforme e longa

Tomemos exemplos ainda mais simples: um som assimétrico é marcado por um lado pelo sostenuto[/entretien — fr.], por outro lado pela ressonância:

 


CD 1 40     1o. som assimétrico

não duvidamos que a fase de sostenuto é consideravelmente mais curta que a fase de ressonância.

 


CD 1 41     2o. som assimétrico

Quem diria que agora [a ressonância] foi vinte vezes mais curta? Um grupo de ouvintes considerou as fases de sostenuto e ressonância bem equilibradas nos dois sons seguintes:

 


CD 1 42     3o. e 4o. sons assimétricos

de facto a fase de sostenuto era três vezes mais curta que a fase de ressonância. Apreciação evidentemente frágil e dependente em larga medida da atenção do ouvinte. Uma escuta menos espontânea poderá ser mais métrica que musical, sobretudo se o som é reproduzido ao ralenti:

 


CD 1 43     2o. som de 42 reproduzido a metade da velocidade [4o. som assimétrico]

Notemos que o tempo musical não é reversível, e que as apreciações em duração modificam-se radicalmente, conforme a causalidade explique tudo desde o início ou que, pelo contrário, ao ser afastada para o fim, seja esperada como o culminar de um suspense? Escutemos os sete sons assimétricos que figuram no capítulo XIV do Tratado dos objectos musicais:

 


CD 1 44     os 7 sons assimétricos

Reproduzamos estes sons de trás para a frente. As suas proporções serão completamente subvertidas. Mas, mais ainda, aparecerá uma continuidade de um som para o seguinte, que não tinha sido percebida no descontínuo dos sons originais, muito lógicos:

 


CD 1 45     os 7 sons assimétricos invertidos

Insistamos por fim nos elementos activos da memorização. Em objectos como estes:

 


CD 1 46     três objectos com inícios característicos

a informação significativa está contida em um ou dois décimos da sua duração métrica. Eis os seus inícios significativos:

 


CD 1 47     porções iniciais dos objectos do exemplo 46

Privados destes elementos, as porções finais, muito mais importantes temporalmente, são dificilmente reconhecíveis:

 


CD 1 48     porções finais dos objectos do exemplo 46

Conclusão: as nossas regras do solfejo, relativas ao valor das notas, não se aplicam senão numa zona privilegiada dos sons sustentados e homogéneos. Os elementos da forma [ou seja, perfil dinâmico] ou de informação perturbam consideravelmente os seus valores métricos. Assim, será um erro confiarmos no cronómetro ou no duplo-decímetro, e a existência de um esquema ou de um plano não assegura que se trate de uma partitura científica. Se existe uma máquina de calcular para calibrar música, nós já possuímos uma, prodigiosa, portátil, económica: senhoras e senhores, é o nosso ouvido.

 

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