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O Solfejo do Objeto Sonoro – 1

SCHAEFFER, Pierre & Guy Reibel. Solfège de l’Objet Sonore. Paris: Editions du Seuil, 1966. (tradução portuguesa de António de Sousa Dias, 2007).

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CD 1 01     extracto de Luc FERRARI, Tautologos II

Prólogo: Os Quatro Elementos do Solfejo
"O som habita em tudo; mas os sons, quero dizer, as melodias que falam a língua superior do reino dos espíritos, não repousam senão no seio do homem." Assim se exprimia Hoffmann, no limiar do Romantismo.

 


CD 1 02     melodia de berimbau

Tal foi, parece uma melodia na moda no Naendertal, nos tempos do berimbau, um dos ancestrais de todos os instrumentos.

 


CD 1 03     cinco sons electrónicos

Tal é, no raiar de uma nova idade, electrónica, a melopeia do estúdio de Colónia. Estranho retorno às fontes. "No entanto, o espírito da música, tal como o espírito do som, não abarca toda a natureza? O corpo sonoro quando tocado mecanicamente, acorda para a vida, manifesta a sua existência, ou melhor, a sua organização, e entra então no nosso conhecimento."

 


CD 1 04     sequência dos harmónicos contidos num som

Mas de que conhecimento se trata? A sequência dos harmónicos — que se apresenta como a sequência dos números inteiros — pertence ao homem ou à natureza? O musical e o sonoro compartilham o espírito de fineza [intuição] e o espírito de geometria [lógica]?

 


CD 1 05     solo de cítara hindu

Com este turbante, Hoffmann conclui: "Não estão então o músico e a natureza na mesma relação que o hipnotizador com o hipnotizado?" Eis o enigma que ousámos enfrentar neste trabalho, complemento do ''Traité des objets musicaux'', o qual chegava à conclusão do dualismo musical. Se a música forma uma ponte excepcional entre natureza e cultura, evitemos a armadilha da alternativa entre o estetismo e o cientismo. Dever-nos-emos fiar mais no nosso ouvido, que é uma “visão interior”. Esta visão é tão viva, a sua linguagem tão clara que se esquece normalmente o suporte que o sonoro fornece ao musical, que nos concentramos apenas na notação. Os objectos musicais referem-se a signos que se referem a estruturas de referência:

 


CD 1 06     algumas notas do Ricercare da Oferenda Musical, BACH

Para medir o desvio entre estes signos de escrita e os objectos reais que os transportam [isto é, a sua realização], basta ver as mesmas ideias musicais incarnarem-se de outra forma, o que é permitido por vezes quer pelo génio do compositor quer pelo seu tempo:

 


CD 1 07     Oferenda Musical (excerto) orquestrada por WEBERN

Assim constatamos que uma dimensão escapa à partitura tradicional, a do “timbre”. Gostaríamos de formar “Klangfarbenmelodie” segundo as indicações de um solfejo. À palavra timbre, o solfejo, de uma forma um tanto ou quanto simplista, responde que a flauta se reconhece pelo seu som aflautado. Aqui ficamos um pouco desapontados. Dissimulará o solfejo alguma lacuna grave? Será necessário colocar em causa as máximas mais banais tais como: uma mínima vale duas semínimas?

 


CD 1 08     tema rítmico na marimba, extraído de Guy REIBEL,

Este ritmo é abstracto; é feito de espaços [isto é, de distâncias entre pontos de ataque]. Falta-lhe ser habitado pela duração, tal como faltava a incarnação do timbre à partitura esquemática de BACH. As durações irão formar o ritmo tal como o timbre colora as alturas:

 


CD 1 09     mesmo tema rítmico: voz e depois, piano

Assim, dos quatro elementos do solfejo, dois parecem assegurados por uma notação quase matemática[: altura e duração]. Os dois outros, timbre e intensidade sonora, são aproximativos, mesmo empíricos. Esta notação, contudo, falha perante sons muito simples:

 


CD 1 10     gongo seguido da sua “redução” ao piano

Recordemos a lição dos linguistas: não podemos reduzir uma língua estrangeira aos esquemas de uma língua materna. Não duvidamos que outras civilizações têm outros instrumentos e outras ideias, um solfejo que lhes é próprio, talvez até mais refinado que o nosso:

 


CD 1 11     Chatur-Lal comentando a execução da tabla

Aqui encontramo-nos hesitantes entre um retorno às fontes e um acto de fé na ciência. Em troca dos nossos quatro valores musicais, a acústica propõe-nos com efeito três parâmetros inutilizáveis, cada um com a sua unidade de medida: frequência em hertz [Hz], níveis em decibéis [dB] e tempo em segundos [s, ou milissegundos: ms]. A questão fundamental é então esta: são os objectos musicais redutíveis a estes parâmetros, sim ou não? Se sim, a acústica tomará a seu cargo a música. Se não, ela não aportará à música senão informação sobre as propriedades físicas do som, cujas correlações com as qualidades musicais ficarão por estabelecer. Tal é o objectivo da primeira parte do nosso trabalho: correlação entre música e acústica.

 

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