O Solfejo do Objeto Sonoro – 19https://dmc.uem.br/lappso/section31/schaeffersos/schaeffer-sos-19https://dmc.uem.br/lappso/@@site-logo/lappso_banner_2024.png
O Solfejo do Objeto Sonoro – 19
SCHAEFFER, Pierre & Guy Reibel. Solfège de l’Objet Sonore. Paris: Editions du Seuil, 1966. (tradução portuguesa de António de Sousa Dias, 2007).
CD 3 42 3 notas variadas de origem electrónica: Y’, Y, Y"
Sexta ideia: Objectos redundantes ou muito breves: critérios temporais Observe-se que todas as tabelas precedentes postulam uma duração optimizada, aquela que é mais favorável à memória auditiva, tirando o máximo proveito das percepções residuais do cérebro. É neste aspecto que os objectos precedentes são bem equilibrados. Ora, um desequilíbrio temporal provocará a saída dos objectos do nosso quadro, por um ou outro excesso da sua dimensão: muito breve ou muito longa. Aqui estão alguns sons que são muito breves:
CD 3 43 célula [K]
mas basta que se encontrem um pouco isolados, apresentados com margens de silêncio, para serem melhor percebidos:
CD 3 44 elementos isolados da célula do exemplo 43
Esta célula [K] foi fabricada, com efeito, pela aproximação de impulsos provindos dos exemplos precedentes; eles não diferem grandemente de uma célula realizada com orquestra:
CD 3 45 célula instrumental
Podemos também realizar outras células obtidas por corte e montagem de uma amostra de ruídos:
CD 3 46 célula obtida da amostra do exemplo 45
O desequilíbrio de simetria provém do comprimento dos objectos, ou mais exactamente da sua redundância [ver 2. tema: duração e informação]. Enquanto os exemplos precedentes continham muita informação, os exemplos seguintes contêm muito pouca. Os objectos sonoros perpetuam-se como começaram; tratam-se dos “sons homogéneos” [H] ou quasi homogéneos:
CD 3 47 [1] som homogéneo de orquestra, seguido de [2] som homogéneo concreto
Os sons homogéneos podem também manter a sua homogeneidade por iteração:
CD 3 48 som homogéneo iterativo [Z]
Falemos agora das “tramas”, que são similares aos sons homogéneos. São objectos longos que contém pouca informação e se desenvolvem gradualmente sem mudança significativa de massa:
CD 3 49 trama harmónica
Um caso limite da trama é o de uma tónica que evolui lentamente em cor e forma:
CD 3 50 trama tónica
Chamaremos de “tramas complexas” aos conjuntos de massas complexas ou variadas, evoluindo lentamente, tendo por vezes um carácter iterativo:
CD 3 51 trama complexa iterativa
Sétima ideia: Objectos excêntricos Após estes objectos redundantes, falta-nos referir os parentes afastados, membros excêntricos que renegam sem dúvida a família dos objectos convenientes. Eles veiculam demasiada informação, fornecem demasiados índices, deixam o ouvido exausto por excesso de abundância. Este tipo de objectos assumem o estranho paradoxo de acumular [1] a incoerência musical devido aos seus efeitos, e [2] a lógica maçadora da sua génese através das suas referências causais:
CD 3 52 amostra [E] de uma arcada de violino
Mesmo no limite dos objectos musicais, uma casa modesta abriga este ser inestético sob a etiqueta de “amostra” [E]: tal é a disparidade dos efeitos devidos a uma execução única [e coerente] mas deplorável, neste caso uma arcada desastrosa ou, talvez, perversa. Mas a amostra pode passar rapidamente de um excesso para o outro:
CD 3 53 amostra “varão”
esta amostra — que poderíamos também chamar de trama — peca desta vez por um excesso de organização quase automática. Oscilamos assim entre uma informação ou muito banal ou muito aleatória.
CD 3 54 amostra de ruídos de boca
A palavra "aleatório" foi pronunciada: também aqui os extremos tocam-se:
CD 3 55 amostra de notas Y’ (impulsos variados)
A repetição de uma multitude de causas semelhantes produz geralmente os mesmos efeitos sonoros que a permanência de uma causa única; tais objectos designar-se-ão de “acumulações” [A]:
CD 3 56 [1] queda de pedras seguido de [2] crepitar de carvão em combustão
Queda de pedras, crepitar de combustão, correspondem à percepção de execuções contínuas ou acumulativas consoante o ouvido que as receba. Aqui o acaso exerce o seu fascínio, acaso que a partitura toma voluntariamente como modelo: